“Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda
que morra, viverá”.
João 11:25
Estou aqui para compartilhar com meus leitores minha dor de
perder meu papaizinho. Ele foi diagnosticado no final de 2012 com glioblastoma
multiforme grau IV (GBM4), um tipo de câncer cerebral, o grau de malignidade é
o mais avançado, ou
seja, extremamente agressivo. O grande problema deste tipo de tumor é o seu
rápido crescimento. Dependendo da condição do tumor, o melhor é retira-lo através
de cirurgia, há situações em que ele é inoperável, mas no caso do papai foi possível,
mas no entanto para todos acometidos, um novo aumento é esperado, pois há infiltração de células tumorais no
tecido cerebral com 7 cm em média de profundidade além da periferia da lesão.
Mesmo que a cirurgia remova 99,99% do tecido o restante infiltrado ou mínimo resíduo local é capaz
de se multiplicar e dependendo do caso, volta ao tamanho inicial em até 30 dias.
O prognóstico é ruim, com um
tempo de sobrevida de aproximadamente um ano e dois meses a dois anos. No caso
do papai, depois da cirurgia foi feito todo o tratamento possível como a
radioterapia, quimioterapia e tratamento medicamentoso, mas dois tumores
voltaram depois de dois anos aproximadamente, voltou violentamente. Ao todo, desde
diagnostico e óbito, foram 29 meses incompletos.
Enfim... os últimos dias dele ficaram aos meus cuidados, da
minha família e tias. No dia que ele passou mal o levamos ao hospital, lá os médicos falaram muito comigo e me disseram que ele
teria daquele dia ao outro somente de vida. Um deles me disse algo que marcou e
me fez refletir no que escrevo nesse texto. O médico disse: “no caso de seu pai a morte é como um parto, onde se espera pelo
nascimento!” – O que ele intencionava me dizer? Recebi algo como do tipo: “senta e espera seu pai morrer!” – não
é nada fácil! Mesmo que eu já soubesse da realidade, não aceitei... me sentei
de frente ao papai, chorei e disse: “nós
vamos pra casa amanhã tomar banho de chuveiro e fazer a barba viu?”. Ali fiquei
esperando ele abrir os olhos lindos e azuis...
Na minha espera agoniante, depois das quatro da manhã, Deus
foi me tocando, falando ao meu coração, me trazendo entendimento e me
confortando de alguma forma e eu senti naquele momento que meu paizinho estava
em processo de partida, em processo de “parto”. Na espera de um parto a mãe é
acompanhada bem de perto para
verificar as condições do bebê, registrando as contrações minutos por minutos,
segundos por segundos. E ali estava eu acompanhado meu paizinho nesse processo,
verificando seus batimentos cardíacos e respiratórios. Mas o que alguém espera
desse momento? Mães de primeira viagem podem ficar extremamente ansiosas com esse
dia pensando na dor, nos primeiros sinais de que o bebê está chegando e até
mesmo em finalmente ver a carinha do bebê.
Mas o que eu esperava? O que eu que de primeira viajem como
filha perdendo um pai esperava? Esperava meu pai que amo morrer? Esperava não
ouvir mais a respiração dele? Que não sentiria mais o seu cheiro? Que não o
veria mais? Que voltaria para casa e encontraria só fraudas, remédios e cama
vazia? Viver isso não foi fácil! Não se espera morrer quem você ama.
Na minha tristeza profunda vi que eu e papai não estávamos sozinhos,
Deus estava ali! E pude sentir e acreditar que meu amorzinho não estava
morrendo, mas estava nascendo... me lembrei de um diálogo de autor desconhecido
por mim, de dois gêmeos num ventre, sobre a possibilidade de uma vida
além-útero, que diz:
– Você acredita em vida após o parto?
– Claro! Há de haver algo após o nascimento. Talvez estejamos
aqui principalmente porque nós precisamos nos preparar para o que seremos mais
tarde.
– Bobagem, não há vida após o nascimento. Afinal como seria
essa vida?
– Eu não sei exatamente, mas certamente haverá mais luz do
que aqui. Talvez caminhemos com nossos próprios pés e comeremos com a nossa
boca.
– Isso é um absurdo! Caminhar é impossível. E comer com a
boca? É totalmente ridículo! O cordão umbilical nos alimenta. Além disso, andar
não faz sentido, pois o cordão umbilical é muito curto.
– Sinto que há algo mais. Talvez seja apenas um pouco
diferente do que estamos habituados a ter aqui.
– Mas ninguém nunca voltou de lá. O parto apenas encerra a
vida. E afinal de contas, a vida é nada mais do que a angústia prolongada na
escuridão.
– Bem, eu não sei exatamente como será depois do nascimento,
mas com certeza veremos a mamãe e ela cuidará de nós.
– Mamãe? Você acredita em mamãe? Se ela existe, onde ela
está?
– Onde? Em tudo à nossa volta! Nela e através dela nós
vivemos. Sem ela não existiríamos.
– Eu não acredito! Nunca vi nenhuma mamãe, não existem provas
científicas que ela exista, por isso é claro que ela não existe.
– Bem, mas ás vezes quando estamos em silêncio, posso ouvi-la
cantando, ou senti-la afagando nosso mundo. Eu penso que após o parto, a vida
real nos espera e no momento, estamos nos preparando para ela.
Este diálogo me faz recordar do que ocorre no Mito da Caverna
de Platão (livro VII de seu diálogo A República), nós tomamos o mundo que nos é
familiar como sendo a única realidade possível, assim como os habitantes da
caverna tomavam como a única verdade o seu mundo de sombras projetadas. Aí eu
pergunto caros leitores, será mesmo que haverá algo além da vida conhecida por
nós? Na minha crença sim! Na minha crença há vida após a morte!
Como enfrentei a morte do papai? Tive medo dele morrer até certa
hora, mas depois não, não devemos ter medo se Deus está conosco! A Bíblia diz em Salmos 23:4 “Ainda
que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu
estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.” Mas a morte causa
espanto ainda a todos humanos. A morte é uma separação, podemos entender este
fato claramente! Então meu paizinho não morreu naquela manhã, mas se
separou por breve momento daqueles que o amam, ele não morreu, mas sim nasceu! Nasceu
em um lugar que nós não conhecemos ainda, nasceu para uma nova vida e vida
eterna. A Bíblia nos diz que não apenas há vida após a morte, mas vida eterna
tão gloriosa que “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração
humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1 Coríntios
2:9). Jesus Cristo, Deus em carne, veio à terra para nos dar o dom da vida
eterna (Isaías 53:5). Mesmo que
a Bíblia possa não satisfazer toda a nossa curiosidade sobre o que acontece
depois da morte, ela é clara ao apresentar que Deus confortará o fiel (Lucas
16:25).
Sabem... Tolice afligir-se com a espera da morte, mesmo que
soframos, pois trata-se de algo que uma vez vindo, não causa mal. Assim, o mais
espantoso de todos os males, a morte, não é nada para nós que acreditamos no Deus
vivo! A morte, esse nada só pode nos causar uma dor, um sofrimento, sofrimento que
segundo jornalista, poeta e compositor brasileiro, Vinícius de Moraes “é o intervalo entre duas felicidades”.
Eu sei que meu paizinho viveu a vida dele intensamente, fez o
que quis, aventurou-se, permitiu-se. Ele foi feliz aqui nessa terra em meios as
suas dificuldades e adversidades. Sua alegria era nítida independente do que lhe
acontecia. E ainda em Vinícius de Moraes: “a vida só se dá pra quem se deu. Pra quem
amou, pra quem chorou, pra quem sofreu”. Meu pai foi feliz aqui e tenho
certeza que é feliz agora lá em outro lugar!
Meu pai foi um guerreiro! Lutou até seu último folego! Assim foi
exemplo para mim até na sua morte. Não vi medo nele, mas vi força de vontade,
vontade de viver a vida, mesmo que ela seja difícil e complicada. Ele me deixou
esse exemplo e eu gostaria que esse exemplo em especial fosse tomado por minha família
paterna, os REIS.
Um dia escutei que os REIS eram conhecidos na cidade de meus
avós como: um povo bonito, inteligente e doido. Concordo! Exceto que traduzo “doido”
por corajosos! Digo isso sem vaidade nenhuma em relação a nós mesmos, apenas com
conhecimento de causa, sempre vejo a coragem em nós. Um outro dia minha filha
caçula me disse: “mamãe os REIS não são
só bonitos, inteligentes e doidos. Nós somos Fortes também!” Eu concordo
plenamente!
Que vocês não tenham medo da morte, mas vivam intensamente a
vida de vocês em Deus, não tenha medo da morte porque segundo o escritor russo
Leon Tolstoi: “O
homem não tem poder sobre nada enquanto tem medo da morte. E quem não tem medo
da morte possui tudo”. O nosso Reis, filho, pai, avô, tio, irmão e
amigo não temeu a morte, ele lutou contra ela até sua última força. O poeta
romano Ovídio disse: “A
morte causa menos dor que a espera da morte”. Então não esperem a
morte, mas ao invés disso viva a vida de vocês sem medo, façam como disse o
dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht: “Temam menos a morte e mais a vida
insuficiente”. Sejam suficientes, sejam necessários, sejam produtivos,
ativos e corajosos, pois os “covardes morrem várias vezes antes da sua
morte, mas o homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez” William
Shakespeare. Façam da vida de vocês um passaporte para a outra vida, porque o "tempo
é o devorador de todas as coisas” Ovídio.
A morte é de fato o fim nessa esfera, mas meus amados ela não
é a finalidade da vida. Porque
enfatizar a espera da morte que é a consequência da vida ao invés de viver
enquanto se pode? Preferem se abrigarem as trevas do que assistir o nascer do
sol? A vida é difícil porem Deus nunca prometeu que tudo seria fácil aqui, ao
invés de temer devemos lutar! Não percam tempo temendo, mas sejam
lutadores e vencerão assim como meu papai venceu! Dessa forma eu e vocês não
morreremos, mas nasceremos em outro mundo onde o Pai de todos nos amparará e estaremos
todos em seus braços!
Como disse um dos gêmeos do diálogo: “Bem, eu não sei exatamente como
será depois do nascimento, mas com certeza veremos a mamãe e ela cuidará de nós”.
Excelente isso! Não sei como será exatamente depois desse nascimento,
mas tenho a convicção de que veremos ao nosso Pai, Ele existe e cuidará de nós!
“Ó doçura da vida: Agonizar a
toda a hora sob a pena da morte, em vez de morrer de um só golpe”
William Shakespeare
"Assim como um dia bem aproveitado proporciona um bom sono,
uma vida bem vivida proporciona uma boa morte".
Leonardo da Vinci
Graça, Paz e coragem para viver a todos!
Pra. Adriana Reis