“Parece que as coisas perderam o
brilho… O que era insubstituível virou facilmente descartável...”
Cazuza
Vivemos em uma época em que quase
tudo é descartável. É só observar! Uma característica da nossa sociedade é o
uso rápido e prático das coisas, para isso se tem eletrodomésticos para tudo,
você lava e seca uma roupa, frita batata sem óleo, descongela carne, faz gelo e
etc. em poucos minutos! Também temos uma série de produtos que são
descartáveis, fraldas de bebês, copos, vasilhames e tantos outros utensílios e
coisas. Vivemos na era do consumo e do esbanjamento, as pessoas descartam
muitos produtos ainda de bom uso só para terem outros mais modernos e
sofisticados.
Não é que sou contra não, acho
até que nós como trabalhadores e pertencentes dessa era moderna temos de alguma
forma que acompanhar a modernidade, conforme a condição de cada um. Sem contar que
coisas de bom uso que não nos servem mais, devem ser passadas a outros, podem
servir a outros, ao invés de ir para o lixo. Mas na minha opinião essa atitude
de possuir e de despossuir de coisas, faz com que as pessoas de hoje se tornem
insatisfeitas demais, produzindo na vida delas infelicidades e
descontentamento. O valor de ser cede lugar ao valor de ter, operando o quantitativo
ao invés do qualitativo.
Segundo o filosofo contemporâneo
Gilles Lipovetsky (2002), hoje existe uma grande mutação global que gira em
torno de um grande organizador: o consumismo que absorve os indivíduos. O
discurso consumista promete a possibilidade de encontrar prazer fácil e rápido
na realidade a nossa volta, promovendo a interação entre cultura e
subjetividade.
Dessa forma as relações são muito
prejudicadas. É notável hoje uma epidemia de separações nas relações sejam elas
quais forem. Casais se divorciam facilmente, os homens trocam as esposas por
outras mais jovens, ou bonitas, ou atraentes. E as mulheres não ficam atrás não,
trocam de mesmo modo facilmente, seus maridos por outros. Cada qual com seus
interesses egoístas.
Nas amizades também vemos muitos
descartes, velhos amigos são abandonados por interesses totalmente egoístas, se
vê pouco amizades desinteressadas que suportam as fraquezas e falhas do outro,
que suportam as adversidades e diferenças. Os amigos de longa data, aqueles que
parecem mais família deixaram de ser necessários e convenientes, sendo trocados
por novos amigos que trazem junto deles assim como na troca de cônjuges, a sensação
de algo novo e vida nova.
E os bichos de estimação?
Estimação? Não cabe mais esse nome para muitos. As pessoas abandonam seus cães
e seus gatos, por que eles se tornaram inconvenientes: velhos, fedidos, feios e
despelados, quando não são mortos brutalmente são abandonados nas ruas,
descartados como qualquer coisa desnecessária. Outros filhotes serão adquiridos
e “amados”, bem entre aspas mesmo, até que serão considerados repulsivos e sem
utilidade, assim descartados também.
E falando ainda de pessoas, hoje
vemos com clareza o quanto a vida tem pouco valor para muitos. Está claro isso
hoje nos milhões de abortos que se realizam cada ano, as mulheres ficam
grávidas e descartam uma vida humana como descartam seus lixos. E muitos bebês que vencem a morte são
abandonados, ou melhor dizendo literalmente jogados em lixeiras e vasos
sanitários.
A vida parece que perdeu o valor!
Uma pessoa mata a outra por nada! Se vivemos em um mundo em que a vida não tem
valor... então a ‘descartabilidade’ vai reinar... Infelizmente! Que marca cruel
do nosso tempo - superficialidade! Vivemos num mundo capitalista de
configuração consumista que detesta tudo o que é durável, mas valoriza tudo o
que seja de uso instantâneo. Eu sei que quando uma coisa não serve mais o
normal é adquirirmos outra. É normal juntar grana para trocar o carro por um
melhor, por exemplo. É normal trabalhar e avançar, mas esse comportamento de
descarte não pode ser levado as nossas relações. E justo agir assim com um
cachorro? E com um ser humano então? Claro que falo aqui daquilo que se espera
de bom, não falo do que te faz mal, se algo ou alguém te faz realmente mal,
deve ser deixado e a vida deve prosseguir.
No entanto... Quebrou? Estragou?
Então vai a loja e compra outro! Essa opção não deveria existir com as relações
humanas. Cansou? Estressou? Troca de marido, de esposa, de amigos e etc. Seres
humanos não podem ser descartados ou substituídos assim como se fossem coisas,
objetos! Oraaaaa! Tudo bem copo descartável, sacola descartável, fralda
descartável, vasilhame descartável, mas amor?! Ah... Amor não! Cadê o amor pelo
ser humano? Pela vida? Pelas relações?
O que tem amor com isso? Tem
tudo! relacionamentos descartáveis relaciona-se intimamente com a efemeridade
no amor. São característicos do que é temporário! É preciso aprender a
valorizar o que não é temporário, é preciso aprender a valorizar o que tem
duração, uma história de vida. Não são todas as relações que vamos conseguir
manter, algumas de certa forma são bem formais, é preciso nessas também
atitudes de valores para que haja harmonia, mas o que eu falo é que precisamos
aprender a manter e valorizar nossas relações que são partes da nossa história,
que são partes da nossa vida.
E isso é possível somente se o
sentimento real pelo o outro não for efêmero, pois o amor é duradouro, é
resistente e ele nunca falha (1 Co.
13.8)! há quem diga que os melhores relacionamentos são efêmeros, porque
tudo que é bom dura pouco. É uma mentira isso! O certo é: tudo que é bom dura
para sempre! CER-TA-MEN-TE!
Vamos pensar nas relações usando
metáforas. A gravidez é um processo temporário. O bebê é gerado durante um
tempo e depois expelido pelo corpo. A mãe decide se quer ou não continuar a
viver com esse filho. Assim da mesma forma nossas relações foram geradas e
desenvolvidas e cabe a nós escolher se vamos ou não continuar essa história com
o outro. De certo que se espera de uma mãe a escolha de continuidade. CER-TA-MEN-TE!
Vamos pensar agora num lindo
cachorrinho numa gaiola de petshop. Você se apaixona pelo filhote, deseja ele,
compra e leva para sua casa. Ele se torna seu melhor amigo e etc. O tempo passa
e o filhotinho já não é mais o mesmo e você pensa: “que cachorro nojento, quero outro filhote”. Vai no petshop, compra
outro filhote e abandona o melhor amigo na rua. Quantos fazem da mesma maneira?
Muitosss! Cansou do amigo? Troca ele, tem muitos engraçadinhos por ai! Isso
mostra a superficialidade dos sentimentos das pessoas! CER-TA-MEN-TE!
Mais um exemplo metafórico. Uma
casa leva tempo sendo construída, vai sendo construída tijolos após tijolos, é
um tipo de construção cheia de detalhes importantes, como: base, portas,
janelas, telhado, paredes e etc. Uma casa precisa ser construída num lugar
seguro, senão... DES-MO-RO-NA! Em qualquer situação de tempestade a casa pode
ser levada enxurrada a baixo! Perdendo toda sua complexidade de detalhes. Da
mesma forma é preciso aprender como edificar um relacionamento, é preciso
buscar solidez senão ele vai desmoronar. CER-TA-MEN-TE!
Por fim... Quase não se conserta
mais as coisas que se estragam, a não ser produtos muito caros, como carros,
por exemplo. No restante preferimos comprar tudo novo. Não vamos nos sapateiros
ou alfaiates e raramente vamos aos técnicos. Tudo é descartável. Tudo muda
rápido. Tudo deve ser usado, aproveitado para em seguida ser descartado e
substituído. Essa condição material de descartabilidade não deve atingir nossos
relacionamentos. Se não dá certo tem que ser descartado? Não se conserta? Não
vale a pena pagar o preço? Precisamos reciclar nossos relacionamentos ao invés
de descarta-los. Se é preciso reciclar, então que seja feito! E o que parece
não ter solução pode nos surpreender positivamente.
“Há relacionamentos que tem lá
seus problemas... As diferenças são tão menores do que o valor que um dá para a
outro, e isso é que interessa!”
Charlie Brown Jr.
Graça, Paz e relacionamentos
duradores a todos!
Pra. Adriana Reis
2 comentários:
Maravilhoso.... também tenho percebido isso. Pessoas descartáveis, as vezes retornáveis né kkkk. As coisas perderam o valor, as pessoas, nem se fala. Procura-se amigos que não te abandonem na primeira decepção ou no primeiro tropeço. byKiki
Muito bacana teu texto. Sociedade do descarte, relações em baixa na bolsa de valores humanos, sentimentos rasos, alianças frágeis, histórias sem o tempero da perseverança.... O duro que essa prática de desvalorização e substituição de tudo está ancorada no desgaste e na fragilidade. Talvez esse seja o efeito colateral indesejável que muitos experimentam. Tudo vira supérfluo.... E, penso que no amor egoísta, não há uma abertura para amar de fato. Quem não consegue superar os embates que uma relação enfrenta não fortalece o sentimento. Curti muito seu texto. Parabéns!
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