terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O Neopentecostalismo

O fenômeno religioso na pós-modernidade é numa questão complexa, na medida em que enfocamos os aspectos mais subjetivos dessa nova religiosidade. Diante da diversidade do fenômeno religioso atual, e pelas constantes transformações que se verifica em todos os seus aspectos, uma vez que existe uma troca quase que constante de idéias ritos, símbolos e doutrinas, levadas de um lado para outro pela mídia, o que torna quase impossível dizer quais elementos pertencem ou não a determinados grupos religiosos. Quando falamos de fenômeno religioso na pós-modernidade, precisamos ter em mente que estamos tratando com uma realidade absolutamente diferente de tudo que já se viu até o momento em termos de experiência com o sagrado.

Segundo o Prof. Isaías Lobão Pereira Júnior da Faculdade Evangélica de Brasília, “O pensamento Pós-Moderno esvaziou a religião formal. Na Pós-Modernidade, a religião deixou a dimensão pública e restringiu-se à esfera privada. Na tentativa de se libertar de uma cultura religiosa com padrões morais absolutos, o indivíduo pós-moderno criou uma religiosidade interiorizada, subjetiva e sem culpa. As pessoas querem optar pela sua “preferência” religiosa sem ser importunadas por opiniões contrárias. Os critérios que orientam essas escolhas são todos íntimos e subjetivos. Semelhantemente, também não tentarão impor sua nova opção de fé a ninguém. Na Igreja, o que antes era convicção, hoje é opção. Os mandamentos divinos passaram a ser sugestões divinas. A igreja é orientada por aquilo que dá certo e não por aquilo que é certo. O pragmatismo missionário e o “novo poder” da igreja (político, econômico, tecnológico, etc) esvaziou o significado da oração e seu espaço na tarefa da igreja. Confiamos mais em nossos recursos e menos em Deus, superestimamos o poder de César e subestimamos o poder de Deus. As ferramentas ideológicas e tecnológicas tornaram-se mais eficientes que a comunidade e a comunhão.”

Éssa é uma versão evangélica da pós-modernidade, os neopentecostais, eles formam um grupo coexistente com os pentecostais, mas com uma identidade distinta. Possuem uma forma muito sobrenaturalista de encarar a vida religiosa, com ênfase nas curas milagrosas e na teologia da prosperidade, é a corrente doutrinária que ensina que uma vida medíocre do cristão indica falta de fé. Assim, a marca do cristão cheio de fé e bem-sucedido é a plena saúde física, emocional e espiritual, além da prosperidade material. Pobreza e doença são resultados visíveis do fracasso do cristão que vive em pecado ou que possui fé insuficiente.

Os neopentecostais pregam a prosperidade como meio de vida. Pobreza é coisa de Satanás. Doença só existe em quem não acredita em Deus e sua origem é o demônio. Seus cultos são sempre emotivos objetivando uma libertação do mundo satânico. O crescimento desse movimento deve-se muito aos programas de rádio e televisão, nos quais, devido ao anúncio de curas e milagres, tiveram uma grande audiência. Seus ouvintes e telespectadores geralmente são recrutados para dentro de suas igrejas. O sistema de testemunho é forte, e isso certamente encoraja outros a tomar o mesmo caminho.

O Jesus do neopentecostalismo é um Jesus rico materialmente, que obedece as nossas ordens, que veio para mostrar o nosso valor e recuperar a nossa auto-estima, é um Jesus que veio trazer prosperidade material a todos os que fizerem grandes ofertas de fé. A prosperidade está sendo vendida a quem somente busca os eventos carnais, com resultados momentâneos e riqueza fácil. A mudança de vida não é importante se preocupam apenas com prosperidade, saúde e felicidade neste mundo, enfatizam apenas o prazer terreno.

Não vemos um maior aprofundamento das Escrituras nos seus púlpitos. A Bíblia está ausente na maioria esmagadora dos púlpitos neopentecostais. Isso é um fato lamentável! É muita gritaria, muito emocionalismo, muita manifestação corporal; muita exploração financeira e ausência da seriedade com relação às escrituras, encaixando muito bem aqui a superficialidade. Não honram as Escrituras e não centralizam a pessoa de Jesus Cristo.

Temos entendido que o propósito exclusivo de um culto é a adoração a Deus e a edificação da alma adoradora. Contudo, não se pode dizer que a igreja neopentecostal tem seguido este propósito, isto porque a ênfase destes cultos, geralmente, não é a glória de Deus. Na "igreja neopentecostal ao invés de cultuar, faz-se "campanhas" de cura, exorcismos, revelação, prosperidade, etc. A liturgia deles é cheia de "glória a Deus", mas é tão desvirtuada de um padrão bíblico que a ênfase recai sobre fenômenos (pouco comprovados) como curas, milagres e testemunhos muito enfadonhos que resultam mais em projeção pessoal do que em exaltação ao senhor.

E as pregações, quando não são aberrações, são cheias de “confissões positivas” do tipo: "Você vai prosperar! use sua fé e prospere! hoje Jesus vai te curar! Deus vai mudar sua vida..." Não existe, portanto, na maioria destas igrejas, uma exposição das Escrituras sequer razoável, capaz de tirar o leigo da ignorância teológica total. Por este fato, quase sempre a palavra do líder passa a ter um valor relativo ao da Palavra de Deus e o que ele determina, passa a ser seguido como regra de fé e pratica. E esta valorização da "tradição oral" não difere muito da atitude de uma igreja que se chama primitiva, cujo chefe supremo é considerado infalível no que fala.

No culto neopentecostal, que não tem espaço para a adoração, se corrompe mais ainda com a demasiada cobrança de oferta dos fiéis (quase sempre prometendo a estes soluções da parte de Deus) o que tem dado a estes "cultos" um caráter mercantilista e explorador. Não somos contrários a se pedir ofertas, diga- se de passagem, mas não concordamos com a falta de bom senso e critério bíblico na administração destas coisas no culto a Deus.

No tocante a música a qualidade das letras com relação à adoração a Deus infelizmente são cada vez mais raras, sendo substituídas por mensagens de auto-ajuda, e antropocentrismo. São comuns expressões surradas, como: "Você é mais que vencedor", "Deus vai operar em sua vida", "Sua vida vai mudar", "Você vai conquistar suas vitórias" etc. As letras mostram que são raras as músicas que estão voltadas para a exaltação e adoração a Deus.

Muitas letras que ainda citam Deus ou alguma passagem bíblica estão na verdade destacando aspectos de um Abençoador dos homens, sendo uma sutil forma de antropocentrismo, e antropocentrismo em suas músicas, pregações e orações é idolatria ou uma auto-idolatria. Ora, são músicas que não exaltam Deus, mas proclamam um super crente; são pregações que esquecem a exposição bíblica e só falam em promessas; orações que não buscam a face do Altíssimo. A música cúltica não deve servir para satisfação do homem e os seus desejos egoístas, mas sim para honra e gloria do senhor.

O homem pós-moderno está aflito e embaraçado com as coisas dessa vida, e o neopentecostalismo veio entre aspas resolver suas aflições, interessado do mesmo modo com coisas terrenas, com o corruptível, deixando de buscar o celestial, o incorruptível.

O futuro é algo incerto, sendo assim é bem difícil definir qual será o futuro do Movimento Pentecostal, pois ele é heterogêneo, hoje, não se pode falar em pentecostalismo, mas em pentecostalismos, pois as diversas correntes no Movimento Pentecostal são, muitas vezes, distantes uma das outras em questões doutrinárias. Antes, o pentecostalismo era bem definido por uma ênfase na salvação dos ímpios, nos carismas, na cura divina, na escatologia dispensacionalista, na espiritualidade piedosa, na evangelização eficaz.

Hoje o quadro é variado e também confuso, pois é possível encontrar uma igreja pentecostal onde o pastor apresenta uma sólida formação enquanto outro pastor, na mesma denominação, prega que a “letra” mata. O pentecostalismo clássico é um movimento formado por pessoas crentes em Jesus Cristo, que seguem ao que está escrito nas Escrituras sobre o batismo com o Espírito Santo, os dons espirituais, a cura divina e o modelo de culto neotestamentário. (At 2; 1 Co 12.1-11; Mc 16.15-20; 1 Co 14.26).

Em nosso tempo, se percebe um desvio em relação ao pentecostalismo clássico, o qual confunde crentes sinceros de crescerem na graça e conhecimento do Senhor Jesus Cristo (2 Pedro 3.18), se percebe uma ameaça à escatologia do pentecostalismo clássico, porque uma das rupturas mais sérias do neopentecostalismo com o pensamento protestante, é o uso da Bíblia. No Protestantismo a Bíblia é sua última autoridade, não a tradição ou personalidades importantes ou mesmo a experiência espiritual, enquanto que o neopentecostalismo enfatiza o uso mágico da Escritura. Para os neopentecostais, a Bíblia é mais um oráculo a ser consultado do que a única regra de fé e prática.

São tantos os fatores ameaçadores, não só desuso da bíblia ou a apresentação do culto e da musicalidade ou a ordenação de pastores sem avaliação de caráter, mas há também ameaça a evangelização, pois o movimento neopentecostal apresenta um problema grave, que é o intento, zelo, diligência, empenho ativista de converter pessoas a suas ideias (proselitismo), que por sinal são mundanas! O proselitismo é uma característica inconfundível de uma seita. A busca por esse crescimento numérico é insensato, pois podemos até persuadir alguém a ser um religioso, mas só Deus pode transformá-lo em nova criatura.

As campanhas evangelísticas de nossos dias têm mais aparência proselitista do que evangelística. A maioria das campanhas são realizadas para crentes! A igreja verdadeira faz convertidos que se tornam discípulos de Cristo e não prosélitos. A igreja deixa de ser igreja do ide e passa a ser igreja do vinde, a evangelização passa a ser estratégia de marketing e os que se "convertem" para a igreja, passam a ser clientes e não ovelhas.

As estratégias neopentecostais são pregar promessas de uma realidade virtual e não pregar um evangelho genuíno, o evangelho de Jesus. Os neopentecostais são na sua maioria superficiais na fé e no trato com as Escrituras. Este superficialismo faz do neopentecostal presa fácil de perniciosas heresias, misticismo, materialismo e muitas outras tendências nocivas à fé cristã. E o resultado desta superficialidade é a imaturidade manifesta numa vida carnal não experimentada no fruto do Espírito Santo. Esse movimento neopentecostal necessita de um conteúdo teológico que é essencial para a conscientização de verdades elementares da fé cristã.

A igreja precisa rever sua atuação, olhando para o Senhor Jesus e lançando-se humildemente de volta às Escrituras, resgatando sua identidade e o seu chamado. Se abrirmos mão da Palavra de Deus como verdade absoluta, correremos sérios riscos diante de uma sociedade sem referenciais, mas principalmente diante de um Senhor zeloso que rege a história e têm em suas mãos todo o domínio e todo o poder.

O que parece não saber os neopentecostais, é que a verdadeira prosperidade está na oportunidade de recebermos a salvação através de Jesus Cristo - o único e suficiente Salvador, pois, a própria Palavra de Deus, nos garante a satisfação de estarmos, providos por todo o tempo, em que vivermos nesta Terra, de uma alegria insubstituível, por qualquer produto fabricado pelo homem, ou qualquer que seja a fortuna adquirida.

Enquanto estes líderes ajuntam suas riquezas, e assim, ensinam, observemos que a fortuna do crente verdadeiro, segue como está em:

Mateus 6:20 “Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem e onde os ladrões não minam e nem roubam.”

Lucas 12:33 “Vendei o que tendes, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão e a traça não roí.”

Graça e Paz.

Pra. Adriana Reis

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